E agora José?  (BVIW)

E eis que seu José e dona Maria decidiram ir morar na capital. Já aposentados, o casal considerou ser bom ir morar perto dos filhos e dos netos.

Venderam então a casa, o único bem do casal, para comprarem outro imóvel onde planejavam residir. Os filhos, Vera e Antônio, escolherem um apartamento, no 6º andar, de um edifício novo e seguro. Pensaram na melhor logística, próximo a supermercados, farmácias e uma feirinha de produtos agrícolas. Esqueceram, porém, de alguns detalhes: seu José e dona Maria moraram, por mais de trinta anos, numa casa com quintal, varanda, amplos dormitórios e muitos amigos. Aquele apartamento pequeno, cuja vista dava para outros blocos de apartamentos e, portanto, sem vizinhos, tornou-se desconfortável e vazio. Faziam-lhes falta as prosas na calçada, nos fins das tardes, os reencontros na saída da Igreja nas missas aos domingos, as conversas com seu Joaquim da Mercearia e o seu Chico do Açougue. Dona Maria sentia falta da troca de receitas com a costureira Antonieta, das rezas do terço, às 18h, na casa da Luíza e das fofocas da dona Socorro. Seu José não podia sequer usar suas ferramentas de marcenaria, com as quais fabricava pequenas peças de madeira, nas horas vagas, e dona Maria não tinha mais sua horta e roseiras para cuidar.  Para completar esse cenário de solidão, os filhos e netos poucas vezes os visitavam.

Aquele apartamento tirou-lhes a alegria de viver. Assim, o desejo de voltar para o lugar de onde não deviam ter saído, tornou-se uma possibilidade nas conversas do casal. Planejaram uma visita a cidade de origem, com o firme propósito de comparem a antiga casa. Entretanto, para decepção do casal, os atuais donos nem cogitaram a possibilidade de vendê-la. Seu José e dona Maria ficaram desolados, olharam um para o outro e se perguntaram: o que fizemos da nossa vida?

Iêda Chaves Freitas

11.07.2023

Tema da semana - A família do sexto andar