Ah, o tempo! (BVIW)
Ah, o tempo é arteiro. Por vezes ele entra pelas frestas da memória e nos traz boas lembranças. Noutras, ele sai de fininho e leva o que queremos lembrar, de certo momento. E assim ele vai nos fazendo ver que é ele que está no comando, e que o bom mesmo é celebrar a vida, todo o tempo e o tempo todo, mesmo que esse tempo entre e saia quantas vezes ele quiser.
Um exemplo disso é o de dona Maria e o de seu José, que se casaram quando ambos tinham vinte anos. Em seus 94 anos de idade já renovaram os votos, que fizeram um para o outro, cinco vezes. Nas bodas de 25 anos, os dez filhos posaram para a foto com os pais. Nas bodas de ouro (50) e diamante (60), os netos ampliaram a paisagem fotográfica e, nas bodas de platina (65) e vinho (70), os bisnetos integraram o cenário do registro de um tempo vivido com amor.
Na celebração do aniversário de 94 anos de dona Maria, uma de suas netas aproveitou o clima de festa e perguntou:
— Vó, o que fez a senhora se apaixonar pelo vô?
Dona Maria riu e disse:
— Minha filha, sabe que não me lembro mais. Só sei que ele nem era rico e nem bonito. As duas caíram na risada e se divertiram com a resposta.
Curiosa, a netinha foi até onde o vô estava e fez a seguinte pergunta:
— Vô, por que o senhor escolheu a vó para se casar?
Seu José pôs a mão no queixo, como quisesse se lembrar e disse:
— Minha filha, ela era uma moça bonita e prendada, e mesmo agora com as marcas do tempo, continua sendo uma companheira exemplar e cativante.
A netinha ficou feliz com a lição aprendida e refletiu: o tempo nos diz que o amor é a essência para se viver bem em todas as etapas da vida.
Iêda Chaves Freitas
28.03.2023
Tema da semana – Não lembro mais.