Folhas ao vento (BVIW)
Ventos começaram a soprar nos pensares de Angélica, quando ela se debruçou na janela, para ver o pôr do sol, naquela tarde de outono. Tão logo dirigiu seu olhar para o horizonte, algumas lembranças a fizeram dobrar a esquina da saudade, ao mesmo tempo em que uma brisa trouxe, junto com as folhas, o perfume de Rogério, seu grande amor nas décadas de 70 e 80.
Contudo, esse homem, que ela dizia ter sido o seu único amor, foi capaz de lhe puxar o tapete, prejudicando tanto a sua vida pessoal, quanto a sua carreira profissional. O caso foi de dupla traição: com o sofrimento causado por Rogério – por muitos anos –, o primeiro sintoma foi ela perder o encanto pela vida; segundo, a luta para reconquistar uma nova oportunidade de trabalho.
Após alguns minutos ali, chorando seus infortúnios, ela ergueu-se, enxugou as lágrimas, fechou a janela, e se dirigiu para um espelho que havia em seu quarto. Lá permaneceu por cinco minutos, olhando-se e refletindo sobre as mudanças que o desgraçado do Rogério havia provocado em sua vida e os respectivos reflexos disso na sua aparência física. Então, diante daquela imagem ela respirou profundo e decidiu: chega de chorar por mágoas do passado. Agora, no presente, o que eu preciso é trocar de óculos para enxergar a esperança – aquela que move as pessoas que não desistem de sonhar e de realizar. E, inspirada nas abelhas, ela ponderou sobre o significado da imortalidade, da importância do amor-próprio e do bem que ainda era capaz de transmitir, além de recuperar a sua fé. E assim, concluiu Angélica, concordando com o poeta Fernando Pessoa, que “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
E a partir daquele dia resolveu dar adeus à nostalgia, passando a viver com alegria e leveza d’alma.
Iêda Chaves Freitas
08.02.2023
Tema da semana. Conto com dez palavras: óculos. Abelha. Esquina. Espelho. Perfume. Tapete. Janela. Por do Sol. Folhas. Nostalgia.