Era uma poesia (BVIW)

A vida tem me proporcionado encontros e reencontros agradáveis e, por vezes, surpreendentes.

No verão deste ano, numa viagem de férias, escolhi (re)visitar lugares dos quais guardo boas memórias e, por tabela, reencontrar pessoas do meu bem-querer. Um desses reencontros se deu, quando optei por conhecer um novo bar, este, de acordo com os meus gostos e preferências. E tudo ia acontecendo conforme planejei: conversa boa, atualizando-me sobre assuntos de interesse comum aos que estavam à mesa. Contudo, a noite ficou mais agradável ainda, quando, ao voltar para a mesa, após uma ida ao banheiro, estava, sob o meu copo, um papel dobrado. Pensei ser um bilhete, mas, na verdade, era uma poesia, e não foi difícil identificar a autoria. Claro que me levantei para procurar e abraçar o autor: o meu amigo Cid. Um poeta nato, de estilo clássico e contemporâneo. Um homem simples, educado, de estatura mediana, com um coração gigante e postura de um gentleman. Conversar cinco minutos com o poeta Cid é desejar que o ponteiro do relógio vá mais devagar, pois ao ouvir sua voz suave e pausada, aprende-se o significado da sapiência, e que, com poucas palavras, são transmitidos saberes e lições.

O meu amigo Cid, assim como todos nós, tem algumas particularidades. Uma delas, é ser um homem romântico que gosta de expressar seu amor por meio da poesia e gosta de escrevê-las em guardanapos de papel, dobrá-los e deixá-los na mesa do bar, onde toma sua cervejinha. Neles, ele poetiza sobre os arroubos da paixão, a sensualidade, o sexo, o prazer, os encantos, a beleza feminina, a saudade e tudo que remete às artimanhas do amor.

Eu só nunca consegui entender, e não sei se a psicologia explica, o porquê da tristeza aparente expressa no seu olhar e até no seu sorriso maroto.

Iêda Chaves Freitas

15.11.2022.

Tema da semana: Na folha de papel dobrado (conto)

Obs.: A foto é no cenário que deu origem ao conto.