Tardes de festas (BVIW)
Na década de sessenta predominava o modelo de famílias numerosas e o um bom convívio entre eles e com amigos. Dona Maria e seu José, diferentedo padrão reinante, tinham apenas um casal de filhos e moravam na cidade. Recebiam, com frequência, amigos e parentes que moravam na zona rural. O seu Zé tinha um semblante carrancudo. Em contrapartida, gostava de festas. Sempre aos domingos chamava um sanfoneiro, e um zabumbeiro, para animar as tardes na sua casa. Em alguns domingos, chamava um compadre que tocasse e violão e cantasse músicas românticas. Ali, naquele ambiente festivo, seu Zé dançava com todas as moças, com dona Maria e ensinava a Helena, sua filha, os primeiros passos de forró, valsa e bolero. Os drinks eram garantidos, e dona Maria se esmerava na galinha caipira e outros petiscos.
Helena cresceu participando do acolhimento de seus pais a todos que o procuravam, independente do dia da semana, desde o almoço nos dias em que os parentes vinham fazer as compras na cidade, as horas de dificuldade com filhos doentes ou quando precisavam que frequentassem a escola. Contudo, seu José era rude e exigente com os filhos, cobrava mais do que lhes dava afeto. Próximo aos seus quinze anos, Helena não percebia nenhum sinal de que haveria celebração. No dia do seu aniversário, uma terça-feira, ela acordou cedo, mas, no café da manhã não teve bolo nem outro sinal de lembrança. Triste, ela foi para a escola, lá também, nem parabéns de seus colegas e professores. Na volta para casa uma lágrima rolou no seu rosto.
Porém, ao abrir a porta de casa ouviu os parabéns ao som de um sax. A casa estava cheia de amigos e familiares. A tarde foi de festa. Dona Maria havia feito um vestido rosa, apropriado para a valsa, que foi dançada e aplaudida por todos. As lágrimas foram substituídas por sorrisos. Só faltaram as fotos. Por um acaso, o fotógrafo da cidade era o seu José, que esqueceu de registrar o momento. No entanto, Helena arquivou aquela tarde no coração.
Iêda Chaves Freitas
01.11.2022
Tema da semana: sempre aos domingos (conto)