Meu jardim (BVIW)
A casa não era um palácio, mas no jardim dela havia mais do que rosas e flores, havia aroma de felicidade e um colorido que refletia a energia do lugar. O sentimento de pertencer àquele paraíso era maior do que o de tê-lo como patrimônio. Era, na verdade, a realização de um sonho que se fez merecido por não ter desistido de conquistá-lo.
As palmeiras eram frondosas e davam um ar de nobreza ao singelo espaço que, muitas das vezes, foi regado com lágrimas de gratidão, sobretudo nos fins de tarde, nos momentos de orações para agradecer e pedir bênçãos. Reinava, nesses momentos, a paz e o silêncio, e eu podia sentir o aroma dos jasmins. Com serenidade, eu ficava ali, no meu banco de madeira, vendo cair as flores brancas que salpicavam o tapete da grama. O cenário do início da noite se complementava com a beleza das estrelas e o discreto brilho da Lua.
Nas manhãs ensolaradas os pássaros presenteavam-me com sinfonias nas caraibeiras que faziam sombra na calçada, amenizando o calor de um Sol forte e, nos dias de chuva, deslumbrava-me olhando as águas escorrer pelas biqueiras das varandas e ouvindo o som dos pingos d’água caindo no telhado.
Essa é a memória mais afetiva de minha vida, é o registro de um desejo cativado no coração e cultivado com o adubo da esperança. Aquele jardim fez parte das realizações de uma mulher forte que enxerga a vida tal qual a beleza das flores, o canto dos pássaros e o bailado dos beija-flores.
Iêda Chaves Freitas
27.09.2022
Tema da semana: Memória afetiva.(Crônica
Obs.: A foto é de dezembro de 2021, eu já não morava mais lá, mas a casa continua sendo minha. Mesmo assim as algumas plantas mantém suas belezas, como a flor de deserto e as craibeiras. A floração das craibeiras se concentra nos meses de setembro e outubro.