Ieda Chaves Freitas
Percepções sobre o que li, vi e vivi.
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Textos
Ana, desde sua infância, aprendeu a ouvir seu coração e agir com a razão, suas convicções não eram típicas de uma criança.
Pois bem, Ana estudava em grupo escolar, na década de sessenta, cujas carteiras eram duplas, e ela escolheu dividir, a que se sentava, com um menino.
Um belo dia seu pai, ao fazer uma visita à escola para acompanhar o desempenho escolar a viu sentada com um menino que tinha trejeitos afeminados (linguagem da época). De pronto, o seu genitor se dirigiu para a sala da diretora e a ordenou que trocasse a Ana de lugar, pois ela deveria dividir a carteira escolar com uma menina e não com um “veado[1]”.
A diretora prometeu que tomaria a devida providência, sem questionar o senhor João, posto que já deveria desconfiar do(s) motivo(s). Não bastasse essa ordem, Ana, ao chegar em casa encontrou seu pai esperando e foi logo dizendo-lhe: a partir de amanhã você vai se sentar com uma de suas amigas, mas com o Raimundo, não, estamos entendidos? Ana respondeu, respeitosamente, que não tinha entendido e perguntou, como assim? só porque ele é filho de uma rapariga[2]?” Ele não tem culpa e é o meu melhor amigo.
Seu pai a interpelou dizendo que não por aquela razão, mas por ele ser afeminado. Ana, na sua inocência, não conseguia entender o que havia de errado, mesmo assim, olhou para o pai, com segurança e ternura, e lhe disse: “pai, desculpe-me, mas o senhor está errado, não vou deixar de ser amiga do Raimundo por nenhum motivo, pois ele, para mim, é igual aos outros colegas, com uma diferença, me é leal, eu confio nele, ele é muito inteligente, gosta de estudar, de ler, então, por favor, permita-me continuar sentando com ele, pois, isso aí que o senhor falou, não vai mudar em nada o meu respeito por ele”.
O seu João admitiu, sem dizer nada, que se a filha não sabia do que ele estava falando, nem tampouco ele sabia explicar o que era ser “veado” para uma criança que só via o lado bom das pessoas, então era melhor não a despertar para malícias.
Chegando na escola, no dia seguinte, a diretora dirigindo-se a Ana, falou: preciso falar com você. Ana respondeu, educadamente: dona Gertrudes, está tudo resolvido com papai, continuarei a sentar na mesma cadeira e com meu colega Raimundo. Cumprimentou-a e se dirigiu para a sala de aula...
É claro que diretora procurou o senhor João para certificar-se que não teria problemas. Ao vê-la ele pediu desculpas e disse-lhe que tinha sido um mal-entendido, estava tudo acertado com a Ana.
Dona Gertrudes, certamente, aprendeu a lição que já deveria saber como educadora - a respeitar as diferenças.
 
Iêda Chaves Freitas
02.08.2021
 
[1] Termo usado para caracterizar os homossexuais, masculinos.
[2] A mãe de Raimundo não era casada e mantinha relações com vários homens.
Ieda Chaves Freitas
Enviado por Ieda Chaves Freitas em 02/08/2021
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