Ieda Chaves Freitas
Percepções sobre o que li, vi e vivi.
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Textos
Minha infância se deu na linda serra de Portalegre, Rio Grande do Norte, no semiárido nordestino, onde se observa, de fato, duas estações: inverno e verão. O inverno que é a estação chuvosa que, quando ocorre, a maior intensidade das chuvas é concentra de março a maio e nos demais meses do ano é verão.
Essas duas estações, cada uma com suas peculiaridades, trazem-me boas recordações. As noites frias do inverso eram aconchegantes na casa dos avós maternos, na zona rural, onde eu dormia com minhas primas numa cama com colchão de palha, aquecida com cobertores de lã, com cheiro de natureza, que me embalavam na penumbra de uma luz de lamparina.
Durante os dias, que se iniciavam ainda pela madrugada, os tios e primos saiam para cuidar da lavoura, limpar os terrenos com equipamentos rudimentares, preparar as terras para o plantio dos produtos adequados ao tipo de solo, notadamente o feijão, o milho, a mandioca e o arroz. E as mulheres ficavam na lida da casa, costurando e fazendo crochê.
A colheita representava momentos de solidariedade e alegrias, com destaque para as debulhas de feijão que se transformavam em diversão, pois nessas se realizavam as famosas cantorias com belos desafios a partir de motes.
Lembranças como essas ativam minha memória afetiva, de uma época que a vida de criança tinha sabor de frutas maduras colhidas nos galhos das árvores - caju, manga, goiaba seriguela, pinha (adoro), do leite tirado no peito da vaca e servido em um copo de alumínio, que após o primeiro gole era desenhado, nos meus lábios e das minhas primas, um bigode feito com a espuma o que nos garantiam boas risadas.
Dali do curral a volta para casa, pois havia o doce momento do café coado, acompanhado com tapioca coberta com uma camada de nata, um pedaço de cuscuz com leite quente por cima, e um fatia de pão de ló, servidos em prato e canecas de ágatas.
A vida e a alegria continuavam nos terreiros da casa, era o momento de ajudar a vovó a dar milhos para as galinhas, varrer os terreiros, colher as verduras na horta para temperar o almoço.
Brincava-se à vontade, corria-se pelos campos, subia-se nas árvores, cassava-se ninho de passarinhos e depois era a hora de ir para a cacimba tomar banho antes do almoço.
E assim minha vida de criança fluiu comparada a beleza dos voos de borboletas.
 
Iêda Chaves Freitas
08.06.2021
A foto é do ano de 2015, no quintal da casa da minha avó e a fruta é siriguela. A casa permanece em uso pela viúva de um tio, com algumas reformas, contudo mantendo-se a arquitetura original. Sempre que vou a Portalegre é lá que fico e refaço os caminhos por onde andei na minha infância. 
Ieda Chaves Freitas
Enviado por Ieda Chaves Freitas em 08/06/2021
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