Textos
Quando criança, e morando no interior nordestino, ouvia as parteiras responderem aos pais e familiares sobre o nascimento de uma criança: – “Foi um parto difícil”. Isso significava que a criança, e a própria mãe, haviam sofrido alguma ocorrência fora do que seria normal. E essa frase passou a ser dita, também, em outras situações difíceis.
Pois bem, há poucos anos passei por uma situação que me fez classificá-la como um parto difícil. Aliás, ainda está sendo, já que foi preciso desfazer-me de minha biblioteca.
Ao escolher morar noutra cidade e, mais ainda, noutro Estado, passei, também, a morar num apartamento bem menor do que as casas que já havia morado. Assim, dei-me conta que não existia espaço para manter uma biblioteca com o acervo que eu tinha. Afinal, foram mais de trinta anos estudando para exercer o ofício de professora, além de aquisição de fontes de pesquisas para os filhos, pois não havia internet até início dos anos 90.
Mantinha, desta forma, um acervo composto por livros, enciclopédias, dicionários, revistas, periódicos, coleções etc... A maioria dos livros era da área da Economia. E, quando me aposentei, pensei: Ah! Não vou mais usar mesmo, pois só vou continuar pesquisando atualidades em artigos científicos. Mas, não foi um processo tranquilo. Durante mais de um ano organizei o acervo por assunto, em caixas e separando-os para sebos, doações para bibliotecas públicas, colegas e ex-alunos.
Ainda conservo alguns livros e periódicos que não consegui fazer o desapego, tal é o sentido que eles têm na minha vida. Esses estão encaixotados e guardados na casa da minha sogra, e está difícil apartar-me deles.
É fato que reservei um espaço, no quarto de hóspede, e estou montando outro acervo, agora composto por livros de literatura, posto que comecei a escrever crônicas, prosas poéticas e poemas, após dois anos de aposentada.
Confesso que, vez por outra, bate muitas saudades da minha biblioteca, das horas que ficava ali buscando um e outro livro para complementar um raciocínio, relembrar algo que queria ressignificar, produzir um artigo para publicá-lo ou reescrever um texto; enfim, era o lugar no qual me sentia protegida, amparada pelo conhecimento. E era o local onde descobria que tinha muito o que aprender, que sabia pouco diante do volume de conhecimento que estava a minha disposição.
Por fim, além das saudades da minha biblioteca, do espaço de leitura e de pesquisas, sinto falta dos meus companheiros de muitos anos, pois eles me ouviam, eu os escutavam e, no final, travávamos bons diálogos conceptuais.
Iêda Chaves Freitas
01.04.2021
Ieda Chaves Freitas
Enviado por Ieda Chaves Freitas em 01/05/2021
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