Textos
O próprio sonho me castiga. Adquiri nele tal lucidez que vejo como real cada coisa que sonho. (Fernando Pessoa)
No meu tempo de infância a vida era mais simples e a natureza respeitada. Havia magia e encanto, além de uma multiplicidade de aventuras para vivê-la. Desde subir em árvores e apanhar frutas, saboreando-as ali mesmo, nos galhos mais altos, até deixar cair os caroços, transformando-os, naturalmente, em lixo orgânico. Ah!, nos galhos mais fortes eram montados balanços feitos com cordas e uma tábua. A diversão era garantida: cabelos ao vento e boas risadas.
Caminhava-se, sozinha ou acompanhada, pelas estradinhas de terra ou caminhos estreitos que se cruzavam através de porteiras que eram abertas e, em seguida, fechadas após passar por elas, pois havia o entendimento que ali havia um espaço delimitado para os animais. Também se pulava cercas de arame farpado, ou se passava por baixo delas, porque invadir os cercados nos dava o sentido de liberdade e poder.
Pular corda, amarelinha, tomar banho nas poças de lama em dias de chuva, nadar pelados nos açudes e rios, andar a cavalo, pedalar longos trechos, subir e descer ladeiras soltando os freios da bicicleta, ah!, eram aventuras que provocavam gargalhadas e aumento da adrenalina.
No tempo da minha infância, o fantasioso era, por si, o que estimulava a vontade e a coragem de desbravar o desconhecido. Ora, quantas vezes, inocentemente, fui ver o que tinha dentro de um ninho feito por passarinhos, mesmo sabendo, teoricamente, o que havia lá e, ao ver os ovos, ou os recém-nascidos pássaros, a descoberta era celebrada como uma conquista, pois no meu imaginário podia encontrar lá, também, uma cobra. E esse era o desafio.
Não fossem essas aventuras, a infância não teria dado suporte para o desenvolvimento das outras fases de aprendizado na minha vida. Naquela bela fase a esperteza estava na desobediência de vencer os próprios limites e na busca sistemática de uma vida com mais significado, aqueles despertados pelos sonhos e fantasias.
Muitas das minhas fantasias de criança se tornaram reais e só agora me dou conta de que posso dar-lhes novas roupagens, usando a criatividade e o conhecimento acumulados para que, no presente, seja possível tê-las mais uma vez e, assim, continuar feliz com as novas conquistas.
Ieda Chaves Freitas
Enviado por Ieda Chaves Freitas em 11/01/2021
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