Enquanto autoridade da área educacional, Ana um dia foi convidada para fazer uma palestra para merendeiras de escolas públicas, cujo tema era “O papel da merendeira na escola”. Ana aceitou o convite, após fazer algumas exigências: que o lugar não tivesse palco, já que ela queria ficar no mesmo nível do público alvo; microfone sem fio, para circular entre as pessoas enquanto falava e que os participantes tivessem crachás com os respectivos nomes, para uma comunicação efetiva. Exigências aceitas, Ana chegou ao local, no dia e horário do evento. Eram quase duzentas pessoas (havia, também, homens merendeiros).
Plateia formada, feita a abertura do evento, Ana iniciou a sua apresentação. (Re)apresentou-se como uma dona de casa e mãe, além de professora. A intenção era diminuir a formalidade. Cuidou de falar com um vocabulário acessível ao nível de formação daqueles profissionais. Não usou recursos tecnológicos, pois não queria constranger aqueles que podiam ter dificuldades para ler ou enxergar.
Ana começou sua fala realçando o papel de cada um na sociedade, independentemente da posição social ou função que a ocupe. Escolheu exemplos pontuais, tipo: de como as merendeiras deviam se relacionar com os alunos, o modo de tratá-los com educação e afeto, que é, de fato, o que mais as crianças precisam, já que muitas delas são carentes de cuidado, atenção e carinho em suas próprias casas. E elas concordavam com aquela constatação. Ana aproveitou para realçar a função nobre que elas exerciam no processo educacional daqueles pequenos e, assim como os professores, a relação de amizade entre eles seriam lembradas, quando os meninos e meninas se formassem. Com certeza alguns voltariam para agradecer e abraçá-los.
Com o transcorrer da palestra, Ana foi percebendo a surpresa expressa nos olhares daqueles servidores, que não imaginavam serem elas mais do que apenas funcionárias que faziam merenda escolar, já que era assim que elas se viam, isto, um reflexo de como a maioria das famílias, professores, gestores educacionais e a sociedade em geral os vê.
Ana, com sua experiência, introduziu, no meio da palestra, uma história (engraçada e irônica) que havia acontecido com ela na Faculdade. Era uma forma de descontrair o ambiente. O que ela não esperava era a reação daquelas pessoas simples, que riram tanto, que a comoveu ao ponto de embargar-lhe a voz. Aquela explosão de risos soou como se tivessem ouvido uma boa piada de humor. Diante daquilo tudo, ela refletiu: Como ela, ali na condição de autoridade, foi capaz de provocar aquele momento de alegria e descontração, já que estavam ali para aprender e, mais ainda, “obrigadas” em razão de seus empregos?
O bom foi ver tudo isso revertido no interesse de eles quererem continuar com a palestra, por isso que o intervalo foi curto. Ana, a autoridade, tornou-se amiga daqueles simples merendeiros e, muitas vezes, pode abraçá-los quando os encontrava pelos caminhos da vida. Uma mensagem foi deixada: Somos iguais como gente, apenas indivíduos diferentes.