Ieda Chaves Freitas
Percepções sobre o que li, vi e vivi.
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Textos
QUE SE DANE O PASSADO

Ouvi parte de uma conversa na qual três jovens comparavam aspectos da modernidade com tempos mais distantes. O que me chamou a atenção foi a reação de um deles: “Que se dane o passado, meu foco agora é no presente.”. Não dei importância para a frase, mas, horas depois, refleti melhor.
Sem querer aprofundar o tema, mas tentando encontrar respaldo para o comportamento da sociedade contemporânea, penso eu que não são apenas as mudanças que transformam a vida, mas a velocidade com que os avanços acontecem, de modo que não dá mais tempo de avaliar a dinâmica, quando você quer entender, já mudou de novo, e enquanto se está tentando aprender um sistema, ufa!, já está ultrapassado, tem coisa nova surgindo e outras sendo anunciadas.
Portanto, pinçando apenas alguns detalhes para continuar a leveza desta prosa, vamos citar alguns exemplos do dia a dia, mas que fique claro, sou a favor dos avanços.
Quem nasceu no século XX, certamente, assistiu a programas de televisão em apenas dois canais, e as telenovelas no máximo uma ganhava destaque na audiência, a exemplo de Meu Pé de Laranja Lima e A Moreninha, ambas baseadas em romances de escritores que a juventude lia. Os enredos se desenrolavam por quase um ano, os artistas eram facilmente lembrados nos anos subsequentes de participações em novelas.
As boas músicas dos 50-70 se ouviam nos programas de rádios AM ou comprando discos de vinil long play (LP), posteriormente na versão compact disc (CD), e como eram poucos gêneros musicais, facilitava-se a identificação pela voz, permitindo saber quem era o cantor ou cantora, pois não havia a diversidade de artistas, duplas e estilos dos tempos atuais.
A fotografia, antes revelada e disposta em álbuns impressos, já não é mais uma forma de memória, agora as fotos são tiradas a toda hora e em todos os lugares, para registrar qualquer coisa ou tudo que se faz, em seguida postadas, no entanto, logo após o compartilhamento, são deletadas.
Até a forma de diálogo mudou. Há algumas décadas, os “bate-papos” eram realizados nos fins de tarde nas calçadas e os assuntos, apenas do dia, eram atualizados. No atual modelo de sociedade as conversas se realizam através do telefone e são atualizados pela internet, inclusive importa saber as novidades ditadas pelos “digitais influencer”.
A cultura era mais seleta, é fato. Os cinemas e os teatros eram poucos e ficavam nas grandes metrópoles, igualmente as bibliotecas, os museus e livrarias. Se, por um lado, os avanços permitem maior difusão dos conhecimentos, por outro o volume de informações e a relevância do que é socializado parece não estar contribuindo para uma sociedade menos desigual, social e economicamente, além de ter sido amplamente socializada as diferentes formas de racismo, homofobia e desrespeito.
Nesta sociedade do imediatismo, o presente não é só o hoje, é o agora, e o futuro nem a Deus pertence mais, tudo se remete à tecnologia, à nanotecnologia, à inteligência artificial e emocional.
O fato é: que se dane o passado para esta geração que não terá registros no futuro.
Ieda Chaves Freitas
Enviado por Ieda Chaves Freitas em 24/07/2020
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