ANA
Ana era uma mulher inteligente, estudiosa e talentosa. Gestora, tornou-se uma mulher independente. Sabia que não era bonita, contudo, gostava de se arrumar com delicadeza e cuidado, vestindo-se, adequadamente, para cada ocasião.
Em uma de suas viagens de trabalho, foi convidada para ministrar uma capacitação na sua área de expertise. Após um dia puxado de trabalho, finalmente chegou ao hotel que havia feito reserva. Seus amigos a convidaram para jantar, porém ela declinou do convite, agradeceu e justificou dizendo que precisava descansar, já que viajaria cedo na manhã no dia seguinte.
Ao se despedir dos colegas, entrou no saguão do hotel, porém decidiu não subir para o quarto, antes tomaria um drink na piscina, já que estava uma noite agradável e o ambiente era convidativo. Ana também tinha, por hábito, fazer uma autoavaliação do seu dia de trabalho.
Escolheu uma mesa, perto do restaurante, com iluminação suficiente para fazer uns telefonemas. O garçom a atendeu, trouxe-lhe o drink solicitado e ela pediu que fosse reservada uma mesa no restaurante e que lhe trouxesse o cardápio para adiantar o seu pedido.
Durante o tempo em que ficou sozinha na mesa, tomando seu aperitivo, fez alguns telefonemas, checou e reordenou a agenda do dia seguinte, anotou pontos que queria rever em um texto a partir da experiência de trabalho daquele dia. Tudo bem. Contudo, sempre que ela levantava a cabeça, percebia que havia um homem, elegante e bonito, que a observava discretamente. Como era uma mulher experiente, livre por natureza, não se incomodou.
Jantar servido, o garçom veio chamá-la conforme combinado. No lugar em que se sentou, no restaurante, ainda dava para ver o moço que, inclusive, em um dado momento, ergueu um brinde para ela. E ela retribuiu, educadamente.
Ana jantou lentamente. O salmão grelhado com legumes estava uma delícia. Como de praxe, pediu seu licor preferido, um drambuie que, após ser flambado, com a gentileza do garçom, tomou-o acompanhado de um café. Perfeito.
Ao terminar o seu jantar, agradeceu ao simpático garçom que a atendeu e saiu do restaurante, optando pelo trajeto da piscina. Dirigiu-se à recepção, solicitou serviço de despertador e, ainda, que fosse reposta a água mineral sem gás, no seu quarto. Agradeceu, pegou sua chave e se dirigiu ao elevador.
Chegando ao seu quarto, retirou os sapatos e os seus pés agradeceram. Foram mais de dez horas calçados em scapins, com certeza, eles precisavam de um alívio. Pegou um copo d’água, sentou-se na varanda e pôs os pés na outra cadeira, desejando uma vigorosa massagem nas suas pernas e pés.
De repente, ao olhar para o apartamento à sua frente, viu a luz acender e um moço sair à varanda e também se sentar, como se estivesse olhando as estrelas enquanto tomava um drink. Em seguida, o homem se levantou, entrou no apartamento e, logo depois, o telefone do quarto dela tocou. Ela levantou-se e foi atender meio sem entender quem poderia ser. Ao falar o tradicional alô, escutou um sonoro e polido “Boa noite, Ana”. Educadamente, ela devolveu o boa noite. E logo perguntou: - Quem está falando? Do outro lado o homem lhe respondeu: “Sou eu, aquele moço que estava na piscina agora há pouco, lembra?” Ela, timidamente, disse que sim e o cumprimentou perguntando se estava tudo bem. Ele, com voz suave, disse: “Você ainda vai descer?” Ao ouvir a pergunta, o senso de defesa foi acionado e, imediatamente, respondeu que não, que já estava se organizando para ir dormir. Ao que ele retrucou: “Como assim? A noite está só começando!” Ao ouvir aquelas palavras, que soaram como se fosse um convite, ou uma cantada barata, ela gelou, ficando nítido, para quem estava do outro lado da linha, o seu nervosismo.
Após um longo silêncio, Ana tomou coragem e se apressou, despedindo-se com um boa noite. O charmoso homem sorrindo disse: “Calma Ana, eu só liguei para avisar que você deixou seu laptop na cadeira do restaurante”. Ah, e seu nome fiquei sabendo na recepção do hotel.