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A PANDEMIA E A FARMÁCIA
A farmácia é um dos poucos lugares permitidos aos jovens que tenham mais de 60 anos, nestes tempos de pandemia. Outro dia desses eu encontrei a dona Isabel. Cumprimentei-a, à distância, e ela retribui com um aceno.
Dirigimo-nos, em seguida, ao balcão, respeitando as marcações no chão. A atendente, de nome Rosa, ao ver dona Isabel, demonstrou a sua alegria e, antes mesmo que ela lhe entregasse a receita, a simpática moça disse: os remédios de sempre? Ela respondeu que sim.
A atendente se dirigiu então ao caixa, com a cestinha e os medicamentos de rotina de dona Isabel, e indicou onde ela devia se posicionar na fila preferencial. Eu também, que já havia sido atendida pela atendente Graça, dirigi-me ao mesmo caixa e fiquei atrás dela, na pequena fila formada por três pessoas.
Ao fechar a conta de dona Isabel, o rapaz do caixa disse o valor e ela, rapidamente retrucou: como assim moço? Tem alguma coisa errada, mês passado foi R$ 152,00. O rapaz gentilmente a informou que alguns medicamentos, infelizmente, tinham sofrido aumento de preço. Quis o moço ainda detalhar uma explicação, mas dona Isabel foi taxativa: “Tudo bem moço, você não tem culpa”. Depois abriu sua carteira, pagou o valor cobrado e, ao sair do caixa, com sua máscara devidamente colocada, e respeitando a distância entre nós, olhou para mim e falou: “Ainda bem que esse coronavírus não pegou em mim. Graças a Deus!” Passou o álcool em suas mãos e saiu. Havia uma pessoa esperando por ela na calçada.
Sorri, por trás de minha máscara, e pensei o mesmo.
Ieda Chaves Freitas
Enviado por Ieda Chaves Freitas em 16/07/2020
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