Ieda Chaves Freitas
Percepções sobre o que li, vi e vivi.
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PERGUNTAS, PARA QUÊ?

Um dia desses, ao encontrar uma pessoa querida, tive que responder várias perguntas sobre minha vida pessoal e, também, profissional. Tudo bem, foi uma boa conversa.

Mas, o fato é que a situação me fez lembrar que uma das minhas filhas havia passado por uma situação parecida, e que, depois, resolveu me questionar assim: - Mãe por que as pessoas querem tanto saber da vida da gente?

Olhei para ela pensativa. Ela se explicou: - Encontrei-me, anos atrás, com uma pessoa conhecida e ela, ao me cumprimentar, perguntou: “E aí, já fez vestibular?” Respondi que sim, e ela continuou: “Para quê?” Ao responder, ela já emendou a terceira pergunta: “E termina quando?” O interessante, mamãe, é que, anos depois, nós nos reencontramos e ela fez questão de complementar o questionário: “E aí, terminou a Faculdade?” E eu me achando experiente fui emendando as respostas: - Sim, terminei e já estou trabalhando. Aí, quando eu já ia me despedindo, ela perguntou: “E ainda está com aquele namorado?” Respondi que sim e saí apressada, antes que ela lembrasse que ainda havia noivado casamento e filhos para perguntar. Sabe, já imagino que, daqui a alguns anos, ao reencontrá-la, terei que responder outras perguntas, e já ensaiei: só vou ter este filho, não terá um irmão ou uma irmãzinha. Rimos juntas.

Lembrei que na minha vida acadêmica vivi essa curiosidade, por parte de uma colega: “Terminou a graduação e já começou uma especialização?” “E quando terminar o mestrado, vai fazer doutorado?” E ainda tive que responder: “Porque não fez pós-doutorado?” E, mesmo depois de aposentada, continuo a responder: “Por que não continua trabalhando?” A resposta é sempre a mesma: por opção.

Na verdade, esse tipo de comportamento era mais usual em cidades de interior, e antes do advento da internet, e da evolução dos meios de comunicação e informação.

Depois de algum tempo dessa conversa bizarra com minha filha me ocorreu uma coisa: mesmo com os avanços tecnológicos, ainda há um número expressivo de pessoas, cuja curiosidade é saber como vivem ou se comportam as outras. E, nesse sentido, as perguntas e respostas individuais evoluíram para o compartilhamento público. Nas redes sociais é praxe iniciar a identificação pelo perfil, incluindo o estágio de relacionamento. E, a partir daí, posta-se tudo, sabe-se da vida do outro sem a necessidade de fazer perguntas.

Esse comportamento nos faz crer que a maioria das pessoas tem poucos assuntos atrativos que estimulem o diálogo, a exemplo de trocar ideias sobre bons livros, filmes e viagens, com as devidas mensagens e aprendizados que essas atividades proporcionam.

Na verdade, quem faz as mudanças comportamentais somos nós e, parece, optamos por continuar querendo saber da vida dos outros, seja em cidade do interior ou na capital.
Ieda Chaves Freitas
Enviado por Ieda Chaves Freitas em 06/07/2020
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